
O caminho para o desespero é inevitável, tudo na vida torna-se cruel, numa ótica excessivamente humana, seremos sempre seres desolados, estrangeiros de nós mesmos, cada qual inconscientemente perdido de si, sem esperança, crença, desiludido. Como que necessariamente desesperados por deixarmos de ser, deixarmos de crer, ou ainda, de tentarmos almejar o posterior, assim somos, indefinidos por condição, ásperos por caráter, desprendidos de essência, inconciliáveis com a natureza. Persona trágica, a vida humana é fictícia, assim creio eu, somos inventados, pré-moldados, irreais até certo ponto quando afirmamos o que somos. Não é novidade acreditar dessa forma, porém, se configura certa impossibilidade não refletir sobre determinadas hipóteses. Há um desespero íntimo à minha natureza. Não aquele Kierkergaardiano, do qual traços de resignação religiosa me causam ojeriza, mas aquele descrente ativo, isso mesmo, paradoxalmente ativo, como reflexo ou extensão de minha consciência, perante a grande mentira do estúpido ordenamento da existência humana. Sem crenças imediatas, indiscutíveis, desesperado por que também sou nada, esse ser que não é, e que necessariamente deixa de ser a cada instante, suficientemente calado, de onde provemos e para onde todos tendem, indubitável teleologia inconseqüente, absurda. Solto, jogado, insustentável, o inverso da felicidade para muitos, digo que não, sou exceção, ainda uma fonte consciente de felicidade, se é que assim posso definir esse gozo, ou como diria certo filosofo francês: um “alegre desespero”, que faz do presente seu esplendor. No mais, uma alegria mediadora, um estado de alma perante a solidão ontológica, diante do nada, da descrença contínua, das incertezas da vida. Alegria cruel e merecedora, que faz do instante duradouro e dos prazeres realidades infindáveis. Sem esperança, sem crença, assim descrevem de forma pejorativa os doutores de espírito, simplesmente vos afirmo que sinto estar vivo.
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