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Mostrando postagens de 2016
Aceito o mote. .. gozoso mistério em meu peito, arde e impulsa o desejo. Me perco, me destrambelho, acabo cedendo pois é inútil a fuga medida. Não pode a razão se impor, esse sentir faz sua própria lei. Sem muito rodeios, é do Eros que falo. Do monstro que Augusto anuncia. A voz dos sentidos, que na calada da noite me espreita com a arma do gozo, com voz de menina, com choro de criança. A ansiedade dói, a cabeça alucina, o ventre arde. Pouco vivi, percebi. E o querer é maior. Lua cheia que clareia a escuridão da solidão. aceito a pecha, desatino. .. indo.
Solidão em versos etéreos, um fim em cada passo, ato. gritos num aconchego multifacetado, gestos embriagados, constato outras solidões por lados. cada qual com seu medo, credo infame, luta constante. e eu piegas e por vezes romântico, ainda me espanto, com paixões repentinas. doce paladar, olhares que se perdem em distância, na loucura dos dissabores, um vinho em grande taça, rubro, amargo, lábio marcado. e eu a recordar a frase e rima maldita "o beijo amigo é a véspera do escarro". Me calo.

O Amigo Americano - Wim Wenders

Sem perspectiva, escolhas, um deserdado da sorte anda a ganhar dinheiro falsificando quadros de arte vendendo em leilões. O outro desanimado, descobre que cada dia que se passa lhe torna precioso, uma doença incurável assalta sua sorte. Tendo que viver com a moléstia deixa de se dedicar ao seu trabalho de restaurador de quadros, ganhando a vida como emoldurador. Recebe uma proposta para matar alguém, proposta irrecusável, pois próximo da morte pensa em deixar algo pra esposa e o filho pequeno. Ambos se encontram numa empreitada macabra em troca do dinheiro. Dennis Hopper, o factótum, para pagar uma dívida está envolvido com a proposta milionária. Junto com o doente se envolvem em assassinatos, mafiosos são atiçados e o enredo torna-se mais dramático. Doses de humor e suspense completam a trama, Wim Wenderes em mais um filme genial. Excelente película, deixo o meu registro do mês de julho de 2016. Dinheiro, escolhas, mortes, fusca e dilemas existenciais.  

DREAMS - Akira Kurosawa

Acabo de assistir um belíssimo filme, de Akira Kurosawa, intitulado Dreams. Não sou leitor assíduo de crítica de cinema, nem de literatura especifica sobre cinema. Mas depois de ter assistido este filme, não pude deixar de escrever algumas sensações, pensamentos, seja lá o quê mais. Sem recorrer a spoiler’s , e muito menos recorrer a discursos sofisticados sobre essa obra do diretor Akira, deixo uma interpretação particular sobre o que ainda estou sentindo. O filme é dividido em capítulos, cada qual referente a um sonho. Sonhos esses que nos leva a refletir sobre inúmeras questões, sobre a vida, sobre modos de viver, é um filme demasiado ontológico. De uma sensibilidade gigantesca, rico em metáforas, crítico e rigoroso acerca do modo atual da vida humana no planeta, este filme me trouxe um esclarecimento necessário para uma possível interpretação da vida, da realidade por demais complexa que é o existir. Lindo filme, me falta estilo e palavra para querer descrever empolgante filme.

As fogueiras ardem lá fora

As fogueiras ardem lá fora. É noite de São João, mas nada disso envolve o meus sentimentos, meu desejo maior é ficar em casa. Uma boa companhia não se encontra fácil e eu cansei de errar. Um homem solitário não suporta essas coisas, ele esquece que seu mundinho, suas frustrações não passam de peso leve. A dor do mundo é outra, a vida será sempre essa incógnita massacrante. Bebida e uma televisão fora do ar, nem os programas de tv desfazem esse tédio. Fogos de artificio lá fora não são mais tão empolgantes como na infância. Deveria me lançar em alguma fogueira lá fora, deixar queimar a carne numa catarse junina, um paiol de sentimentos intragáveis. Melancolia não deixa de ser cafona, ninguém tem mais saco pra esse tipo. Sujeito confuso e indeciso, copo gelado de Coca-Cola e um resto de macarrão azedo na geladeira. Não tenho sono, algo me perturba, não sei bem ao certo o que seja. Não tem nada haver com amores, amores esgotam qualquer homem. Aprendemos um pouco sobre, eles fazem falta,

Um homem e seu desejo maior

Hoje inculquei em minha cabeça a ideia de matar alguém... fui pego de surpresa com esse desejo, essa vontade assassina, logo me vi num bar ainda pensando, preso em conjecturas maquiavélicas, em querer privar a vida de outrem. Já estava bem próximo da hora do almoço, o bar não fecha nesse horário, havia seis mesas, apenas duas estavam ocupadas, um vagabundo conhecido por beber as custas dos outros num canto, conhecido por pedir bebida a um e a outro, de gole em gole levando a vida a diante, na outra mesa, desconhecia os indivíduos, falavam de música, uma nostalgia sobre o que eles nomeavam de “música das antiga”, Nelson Cavaquinho, Ataufo Alves, Nupicio Rodriguez, recordo de algum desses cantores, e quando estou nesse Bar sempre tocam essas músicas e a maioria dos bêbados choram suas mágoas e compartilham as vezes seus desamores. Nesse clima eu estava, e ainda com aquele desejo de matar alguém. Bebia cachaça, a mais vulgar delas, depois comecei nas cervejas, já se foram três, já estava

Havia cigarros jogados ao chão....

Sábado ensolarado, mas entediante como todos os outros sábados que já passaram, que se perderam em restos de lembranças poucas vezes revividas em memória. The man with the born, estava rodando na vitrola velha, esquecida por ladrões desgraçados que arrombaram e furtaram minha casa. O diabo sente o cheiro de nossas frustrações, e eu nem dei conta da merda em que eu estava enfiado. Havia cigarros jogados ao chão, um cinzeiro quebrado, roupas espalhadas por todo o chão, e em uma mesa suja e velha, livros, uma gueixa a me olhar sorridente, num sábado desgraçado. Garrafas vazias em mais um sábado vazio, que consome até as últimas forças de uma juventude que insiste em não morrer. Você dá conta de que a solidão não é tão boa assim. Aonde estão as mulheres, homens precisam de mulheres, Freud viciado em cocaína, um batismo de sangue, um ritual de passagem, um pulo para o abismo, uma queda além dos 30 anos. Sábados, insuportável sábado que virá... A cópia de um desejo, cadeiras vazias, poeir

A cena que me veio à cabeça foi a seguinte....

Numa mesa grande retangular larga, que mais parecia a mesma da santa ceia, na qual Cristo compartilhara junto aos apóstolos suas últimas horas de vida, um cego bêbado com uma vara na mão, estava a quebrar copos, pratos, garrafas e tudo mais que estava posto aquela mesa. Um leproso tentava em vão faze-lo parar. Numa outra extremidade da mesa, a esquerda, uma prostituta com o dedo indicador apontando para o alto diante da cara de um drogado que lhe tinha passado aids. Já na outra extremidade um pastor evangélico gritava alto palavras desconexas “– pai...pecado...inferno...homens...pecados” ao mesmo tempo cuspia na mesa. Ao seu lado uma criança, não sabia ao certo se era menino ou menina, se lambuzava com pó de Potassium Cyanide . Numa confusão instantânea, escuridão e gritos.... Suor por todo o corpo, uma fogueira em enormes chamas, a coroa do Cristo lançada ao fogo. Um cego bêbado destruindo tudo e o que estivesse à sua frente.... Escuridão familiar, horror e ódio, e Cristo morreu por

IPSAE RES VERBA AMBIUNT “as próprias coisas arrastam as palavras”, Cícero, De Finibus.

Palavra é o que pode ser dito Na língua, músculo ensopado. Atiça pensamentos em sons. Faíscas, fagulhas inter crânio, Atestam os impulsos do corpo vivo. Ser em consequência palavra em poesia, Ou outra coisa lírica diversa. Antes palavra, ato prévio pensado, Existir sem corpo, imaterializado. Em escrita, linguagem presa, acabada, Como neste texto, fato, dado, pensamento compartilhado. Verbo substancial, corpo caligrafado, Vontade e rima, nesses versos pobres, Palavrado, poetizado, digitado, computado, Não arremeda a vida, une apenas vogais e consoantes, Em sons articulados.