Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2012

Sobre a morte de Zíper (O gato cinza)

“A natureza nos informará imediata, plena e suficientemente”. Fora dessa forma que Montaigne, em sua obra ensaios, refletiu sobre a condição da morte. Hoje já faz alguns dias que o meu gato cinza (Zíper) foi morto de forma desconhecida, ‘ – suponho que tenha sido atropelado, pela gravidade e características dos ferimentos’, e estou me ocupando nessa transformação em palavras a sensação forte e a demasiada tristeza que surgiu em minha vida para desmoronar meu castelo de certezas. Sua morte veio de forma imediata, seguindo o pensamento do filósofo francês, rompendo minha ilusão cotidiana, lançando-me numa realidade autêntica e teleológica de todos os seres vivos. Antes era nada, até o momento em que  construí  o algo como força de minha vontade em querer companhia, aproximação de um outro, um objeto qualquer? Nunca, uma vida que me instiguei a oferecer condições para continuar a existir nesse mundo medíocre, forjado e  desconstruído  por nós humanos. Resido com outros quatro da mesma

A criaturinha.

A subjugação da natureza leva inevitavelmente a sua destruição, e a destruição da civilização. (John Zerzan) Manhã do dia 24 de julho de 2012. A rotina era mesma, acordar ir até a padaria e comprar os pães do café da manhã. No caminho lembramos que a soja tinha acabado e fomos comprar num mercado próximo de nossa casa, nesse percurso o acaso nos lançou de encontro aquele ser pequeno, frágil e muito debilitado. Não pensamos duas vezes, resgatamos e levamos conosco para nosso lar. Ela preparou um cantinho, caixa de sapato e alguns retalhos velhos, algo improvisado mais com tamanho carinho. Um pouco de leite numa vasilha e a esperança de que a criaturinha, “Ela costumava nomear assim esses pequenos seres”, fosse suportar essa existência indiferente e cruel que todos os humanos submetem os não humanos. Ela saiu para trabalhar logo após o almoço, e eu fui ver o que estava acontecendo no mundo paralelo e virtual criado por humanos e só para estes. Gastei tempo com essas futilidades e

Realidade silenciosa

Há uma enorme dor no mundo, a qual os homens fazem vista grossa por não sentirem diretamente. Esta dor diz respeito a seres incapazes de se comunicarem por linguagem humana, que sofrem, desde tempos remotos, solitários e taciturnos. Esse mundo no qual  insistimos em habitar de forma desgraçada não foi feito para eles, alimentamos nosso modo de vida com carne e sangue e deleitamos com isso como se tudo não passasse de um mero costume ou, pior ainda, como se isso tudo fosse o preço a ser pago em nome do nosso maldito bem estar. Nosso “deus” confirma essa postura e justifica a carnificina, pois também é ele sedento por sangue, dor, sofrimento e morte, ala cristo o símbolo sagrado. Nossos filhos são criados e preparados ao longo da vida para enraizar essa existência cruel e, como meros fantoches, estão todos fadados ao limbo. Existem seres não humanos nas ruas aí deste mundo, sem gozar o direito à vida, à liberdade, ao prazer, em ser amado e usufruir da convivência com seus s

Confusão de palavras em momentos de tristeza.

Sou um sujeito demasiadamente cético para crer em certas situações místicas, mas me sinto um pouco confuso quando, certas situações, se apresentam e me fazem duvidar do meu ceticismo. Num dia comum a felicidade empolga meu espírito e despercebido vou vivendo cada instante como uma criança despreocupada com o futuro incerto.  Há beleza em tudo que vejo, sinto e percebo, como se não bastasse tudo ao redor me impulsiona à alegria, em sentir por completo o quão é bom estar vivo. São nesses instantes fugazes, em demasia, que os planos para uma vida futura são alavancados, são pensados enquanto realidades possíveis, até o momento em que são frustrados. Recordo-me do ser constituído por escolhas, o qual um velho pensador burguês traçava suas teorias, que vinha a calhar em momentos como este. Porém, o outro lado da moeda instigada pelo destino não fazia reservas para me desvelar o oposto. A vida não tarda em arrancar de mim meus ínfimos momentos de felicidade, estraçalha meu peito e meus sen

Uma opinião sobre liberdade.

Não existe liberdade a ser copiada, seguida num consenso inibido e acanhado, entre indivíduos e/ou grupos. “A única liberdade que nos serve é a que conquistamos, não a que nos doam, vendem ou emprestam” (Freire e Brito, Utopia e Paixão), parafraseando um livro muito simpático. Não devemos nos submeter a nada, qualquer submissão acarreta e faz surgir o autoritarismo. Existem formas diversas de expressão da autoridade, e quando não temos consciência disso fica difícil entendermos nossas relações por inteiro (se é que isso possa ser possível). Temos que almejar a pluralidade não a uniformidade de consensos. E a liberdade é uma luta constante, submetida ao devir do tempo, da cultura e da vontade. Precisamos libertar nossas ideias e partir para o novo em confronto com o estabelecido, imposto, determinável. Mutações constantes, transformação diária, revirar as bases de qualquer estrutura que se faz ou pensa em estabilidades. Não cristalizemos nossas ações, nossa conduta, postura e desejo,

A falácia denominada democracia.

Desde a antiguidade “clássica” que a ideia de democracia vem sendo repassada (imposta) por gerações, e moldando o caráter das pessoas submetendo-as ao tão fadado sufrágio universal (voto). Não esqueçamos que essa mentira, disfarçada sobre o véu burguês (outrora aristocrático) da concepção de liberdade, desde de sua criação/aceitação entre os gregos é algo vicioso. No sentido de que não existe igualdade entre desiguais socialmente e, hoje mais do que nunca, economicamente. Na era antiga, apenas os abastados, exclusivamente masculinos, aristocratas tinham poder de decisão, participação nas pelejas do governo da pólis . É nisso que percebemos o paradoxo da etimologia da palavra ‘ demo’ ‘cracia’ governo do povo, ou melhor traduzindo, "algoz do povo". Negros, mulheres e estrangeiros eram julgados como coisas do homem patriarca grego, o que pouco difere dessa realidade tacanha dos dias de hoje, em que pobres, sem conhecimento necessário para discordar, questionar, ou até m