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Mostrando postagens de novembro, 2009

Parábola do velho solitário

Certo dia um velho acordou e se viu num quarto vazio. O único objeto que se via era um espelho velho pendurado na parede. Nada de móveis, livros, roupas, nada, e ele, o velho, se encontrava deitado no chão olhando ao redor de si mesmo. Atônito resolveu se levantar e se dirigiu direto ao espelho. Ao se aproximar se deparou com um rosto familiar, “Este sou eu”, afirmou, como uma suposta sensação de indiferença. Via o quanto o tempo foi cruel com ele, e lembrando dos tempos de infância se surpreendeu em ver no espelho um sorriso refletido. Voltando a sua situação peculiar, percebeu que o quarto também não possuía janelas nem porta, apenas um pequeno buraco no teto no qual a luz invadia iluminando aquele pequeno espaço, isso lhe deu a impressão de estar sufocado e o ambiente aos poucos foi se tornando insuportável. Agoniado, minuciosamente analisava cada canto do quarto, mas, logo percebeu que tal tarefa era inútil, e que realmente estava preso e sua única companhia era aquele espelho

Esboço sobre a felicidade

Os homens confundem os meios com o fim. Castram-se numa corrida estúpida pelo dinheiro almejando serem felizes. Confundem os meios para obter este fim com o próprio fim. Desprovidos de consciência se atolam até o pescoço nas areias movediças do capitalismo, como são cruéis consigo mesmos. A felicidade só se sente instantaneamente, não é condição e sim instante que se desfaz submetido na sucessão do tempo. Com garras e unhas agarro minha felicidade, mas logo ela não me serve mais, me entedia, perde seu valor, ou melhor, deixa de proporcionar prazer. O homem mata para achar o caminho que assegure sua felicidade. Não apenas toma essa atitude, porém essa é a mais preocupante. O que realmente queria dizer aquele cantor ao cantar que “a felicidade é uma arma quente”? Desde épocas passadas logo após a tentativa de definirmos tal sensação, definição ridícula, que a felicidade ocupa os homens. Principio moderador ético, instigação de práticas hedonistas, assim como, criadora de escolas, a

Paixão insepulta

Ao partir deixaste comigo o desengano. Foi dessa forma que senti o peso da nossa relação. Todos os dias quando saio para trabalhar, o mundo e as coisas perdem sua intensidade, mergulho no sonho do cotidiano e me perco nas inconsciências das relações humanas. Ao fim do dia, quando o sol mergulha no horizonte, minha lucidez retorna gradativamente, uma espécie de apercepção sobre a sua falta. Tua ausência me causa certas sensações, que de maneira singular mexe com meu espírito, és incontrolável e estou perdido sem qualquer domínio. Nenhuma palavra exprime esta sensação, não existe nada que a submeta ao comum, cada qual sente do seu modo. Mas, foste tu quem me lançaste nesta realidade, neste vazio sentimental. Uma paixão incompreendida? Talvez. Acredito nessa paixão mal dita, sem compreensão alguma, “ Maldita sois vós! ” Insulto você em pensamentos, mas não te culpo jamais, porém te informo sem ressentimentos. Foste embora e aqui estou como um cadáver insepulto.

Inspiração acerca da fé religiosa

Ó fé tão impotente, Ó delírios sanguinários! Faz da carne algo baixo e sujo E da alma produto extraterreno Confunde com palavras a simplicidade da vida. Tem por base o medo, sim o medo que encravaste no deserto da natureza humana, Onde a solidão assusta e deixa de ser uma dádiva. Tenho por ti, fé inútil, total aversão Se hoje te dou esse privilégio de sujeito gramatical É porque tenho um íntimo desejo em te mostrar O quanto és desimportante Adjetivos fatais Sem vida, és cadafalso das vontades Impotência no seu sentido mais pleno De quem deseja o inalcançável, o irrealizável E se resigna no fracasso.

Contraste com uma suposta felicidade

Na noite as coisas fluem com certa intensidade. Era uma noite de sábado, céu estrelado, e assim como todas as noites de finais de semana, a maioria das pessoas procurava algum tipo de ocupação prazerosa. Albert motivado por essa vontade comum saiu de casa por volta das 23 horas. Ainda um pouco cansado, pois, havia trabalhado no mesmo dia no turno diurno, andava pela rua pensando no que iria fazer, já que estava cansado dos mesmos lugares que a cidade oferecia. Parou um instante, acendeu um cigarro e deu duas baforadas para o alto. Logo veio a sua mente uma idéia: “Essa noite irei ao único lugar em que nunca fui nesta cidade”, pensou ele, e seguiu a diante na avenida. O suposto lugar onde pensava em ir ficava a algumas quadras dali, a caminhada não era desgastante e, só assim ele economizaria parte do seu dinheiro. Ao chegar próximo do local avistou um aglomerado de pessoas. – O que fazem essa hora da noite? – indagou. Parou e ficou apreensivo olhando o que aquelas pessoas estariam fa

Um tipo cansado

Cansado com o mundo e as coisas, esqueci dos tempos outrora em que fui feliz. Hoje não tenho tanta disposição para com as ocupações humanas que me impõem trabalho, estudo, paixões, deveres cívicos etc., tudo isso me é cansativo. Talvez eu não tenha vocação para nada e a vida tenha se tornado um embuste construído por mãos inúteis como as minhas. Tenho nos últimos dias hipoteticamente me projetado para um futuro determinado que criei e que me consola das desilusões tão reais. Um vício humano em querer determinar o incerto, confrontando com vazios impreenchíveis próprios da fatídica natureza humana. A vida, esta pluralidade de momentos fugazes, onde violentamente e despercebidamente vivemos e envelhecemos tanto em corpo quanto mentalmente, é contraditória, tanto no que diz respeito a nossa condição existencial, como também, das outras coisas e seres presentes no mundo e no universo. Pouco me importar saber como que esta vontade íntima presente em todos os seres vivos surgiu, para mim

Um Passado

Acordei umas cinco horas da manhã e isso não era de costume. Passei quase toda a noite me revirando de um lado a outro da cama, certa compulsão contra meus pensamentos mais íntimos. Despertei e o sol demorou um pouco a surgir. Junto com ele os sons mais variados preencheram o vazio da noite que acabava de chegar ao fim. Ainda cansado desisti em me levantar, fiquei deitado olhando para o teto que me acompanhava e fazia sentir-me tão aconchegado. “– Hoje me sinto inútil” -, pensei e logo percebi nessa assertiva algo de verdadeiro. “- O dia anterior talvez tenha sido muito conturbado”– pensei novamente -, “- Mas não tenho certeza do que realmente o que aconteceu”. Meus pensamentos desordenados me deixavam confuso, quando eu tentava me prender a um raciocínio, ou ainda, tentava conectar minhas lembranças com a intenção de recordar o dia anterior, nada me vinha à mente e tudo se resumia a acontecimentos isolados, lembranças vazias e desconectas que não me diziam basicamente nada. “- L

Sobre a Velhice.

Assim como as pálpebras pesam diante do sono E os olhos se perdem na imensa escuridão, O corpo enfraquece perante a vontade de viver Um instante, fragmento resultante de uma totalidade perecível Último suspiro, aterrorizador presente Face desgastada frente à jovialidade da vida que a cada instante renasce. Sofrimento, maturidade, sensatez, eufemismos para sua realidade Insistência medíocre que clama pelo fim Faz a morte onipresente, como quem sente o fim da vida. Velhice último desejo de todos.