Noite fria e chuvosa nessa cidade estúpida, se já não bastasse o tédio de estar em casa, não há nenhuma bebida, nem mesmo cigarros, nem ao menos um corpo fácil e barato, para um gozo instantâneo seguido de uma repulsa egoísta e necessária. Desejo a violência de uma vida lançada ao risco, intensa, perdida e só minha. Se eu tivesse ao menos uma bebida que me deixasse alto e iludido, é estranho viver de cara nesse mundo. Toda a indiferença preenche meu corpo, certo horror em ser homem, me faz recordar aquele cínico grego “Diógenes de Sínope”, e sua repugnância à civilidade, a corrupta natureza humana que engendra de forma incessante desigualdades. E essa chuva não para, há três dias que ela assola minhas pretensões, premedito e acabo desistindo. Hoje até meus livros, meus únicos e verdadeiros amigos, não me excitam, eu cansei de discursos, de descrições existenciais e de verdades relativas. Mais um dia que se esvai pelo tempo, e propenso estou a desistir de tentar, de buscar ocupar ou...
COLETÂNIA DE IDÉIAS