Pular para o conteúdo principal

Recordações

Uma noite qualquer em mais um instante esmo da vida, momentos que impregnam a memória de recordações prazerosas surgiam. Inesperadamente tudo começa a acontecer com certa intensidade e impulsos, vontades, desejos são objetivados em nossas ações. “Nós humanos exploramos a existência e carregamos conosco suas conseqüências: decepções, revolta, encantamento, prazer, tristeza, tudo isso, completando necessariamente nossa existência”. E naquela noite aparentemente insignificante, a vida ia pouco a pouco se manifestando e envolvendo seres até o momento indiferentes. Recordo-me ainda do gosto de vinho que, entre os seus dedos, fora derramado me induzindo instintivamente a volúpia. Não havia mais receio de querer para si, de efetivar os desejos sobre qualquer circunstancias, aos poucos as coisas iam se construindo, sem permissão, mas com intensa vontade, desrespeitando convenções, estávamos totalmente entrelaçados aos instintos. Não é preciso esforço algum para recordar momentos tão prazerosos, tão humanos, tão ingênuos. Cada beijo seu era um lampejo de liberdade e meus lábios tremiam com a força magnífica do amor que naquele instante se apresentava. Assim como ele, “amor”, instantâneo, segundos intensamente vivido, a face da existência que torna os humanos belos, fugazes, desejados, insignificantes. Fundimo-nos no sexo, violamos as convenções, o prazer dita as regras e não lhe importa seus personagens. Ao sentir seu corpo ao meu, deixamos de ser dois seres, e passamos univocamente a existir, a sermos o que é, nesses momentos a essência se objetiva, o espírito se desprende num gozo esplendido e repentino. Como ainda te desejo, não posso negar, ainda te procuro, vasculhando este mundo, aspiro realizar novamente o passado, não consigo me desviar dessa ânsia juvenil, dessa sensação que nos conforta sobre o sofrimento do mundo, sobre o vazio dos dias, do comum existir da maioria. Os momentos felizes da juventude preenchem a vida decrépita da velhice, a torna agradável, ou melhor, suportável. Assim como todas as coisas no mundo tendem ao fim, ao perecimento, sendo necessárias para o surgimento de novas coisas, num ciclo cósmico entre nascimento e morte, assim foi nosso amanhecer, num lapso inconveniente imposto pelos costumes, onde sua única intenção é oprimir tudo aquilo que foge da regra. Fora um beijo que anunciou o fim, assim como fora ele que dera inicio a toda essa brincadeira. Senti o peso do existir comprimindo meu corpo ao regressar a minha moradia e acordei como todo amante tendo a certeza que foram poucas as vezes que vivi.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Categoria Música: Belchior e os poemas de Drummond.

Bom, pra quem gosta de uma boa música aqui vai uma dica que, em minha opinião, despertará a curiosidade acerca deste nome. Minha dica é o cantor, poeta, pintor e compositor Belchior. É isso pessoal, por mais que alguns afirmem que existem “intocáveis” compositores brasileiros, a exemplo de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius, dentre outros, este cearense despertou minha curiosidade e me fez perceber que a música não tem limites estéticos, e que não existem tais cantores intocáveis. Sem bajulice ou coisa parecida, aqui escrevo sobre este figura por sentir e perceber a um bom tempo a qualidade de suas composições. A diversidade presente em sua obra é marcante e os ritmos se confundem numa salada de poesia, filosofia e estilos musicais. Inúmeras são as músicas que há tempo são apreciadas pelo gosto popular: “Apenas um rapaz latino-americano, Medo de avião, Fotografia 3x4 e Tudo sujo de batom”, são exemplos que já se tornaram banais. Sua originalidade estética não se resume apenas a es

Parábola do velho solitário

Certo dia um velho acordou e se viu num quarto vazio. O único objeto que se via era um espelho velho pendurado na parede. Nada de móveis, livros, roupas, nada, e ele, o velho, se encontrava deitado no chão olhando ao redor de si mesmo. Atônito resolveu se levantar e se dirigiu direto ao espelho. Ao se aproximar se deparou com um rosto familiar, “Este sou eu”, afirmou, como uma suposta sensação de indiferença. Via o quanto o tempo foi cruel com ele, e lembrando dos tempos de infância se surpreendeu em ver no espelho um sorriso refletido. Voltando a sua situação peculiar, percebeu que o quarto também não possuía janelas nem porta, apenas um pequeno buraco no teto no qual a luz invadia iluminando aquele pequeno espaço, isso lhe deu a impressão de estar sufocado e o ambiente aos poucos foi se tornando insuportável. Agoniado, minuciosamente analisava cada canto do quarto, mas, logo percebeu que tal tarefa era inútil, e que realmente estava preso e sua única companhia era aquele espelho

Sobre a morte de Belchior

Dia 30 de abril os principais jornais do país anunciam a morte do cantor e compositor Belchior, uma “ferida viva no meu coração”, isso mesmo, uma ferida repentina, uma angústia, não sei ao certo, me atingiu naquele exato momento. Custei acreditar o poeta tinha nos deixado, “tenho sangrado demais” e mais uma notícia triste selava o primeiro semestre de 2017, num país que cada vez mais ficava pobre, em alma, em voz. “Como uma metrópole o meu coração não pode parar” pensei, vida que segue, o aventureiro cearense tinha nos deixado uma obra imensa para que ainda possamos lembrar de seu nome e imagem. Hoje, se me propus a escrever sobre esse fato, foi simplesmente pelo desejo de deixar “na parede da memória essa lembrança é um quadro que” me dói mais. Belchior é um nome a ser lembrando e descoberto por muito tempo, como um visionário temia um futuro de intolerâncias, de medo e de pequenez humana. “Nada é divino, nada é secreto, nem misterioso” mas continuo a aprender com a vida, talvez foi