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A perda do viço sobre o mundo e as coisas.

É sempre um equívoco afirmar qualquer coisa que seja de forma convicta. Porém, nem sempre estou disposto em assumir tal postura e me lanço comodamente em paradoxos superficiais que se chocam no cotidiano de maneira categórica. Na ambivalência comportamental que assumo todos os dias, acabo me perdendo em palavras vazias, de algum significado que possa ser substancial, e em pensamentos avulsos que rompem com minha repugnante e estática situação existencial. Não me admiro com minhas mutações repentinas, com os meus desdizeres, nada disso atribuo relevância. Sou mesmo um sujeito confuso, até mesmo em constatar tal característica. Ao ser questionado sobre assuntos que envolvem minha personalidade, minha interpretação do mundo e da vida, procuro, com certa frustração, ordenar as idéias, as palavras, para amenizar esse caos ideário, mas tamanha é minha decepção ao constatar a inutilidade de tais questionamentos, e volto a me reservar. Emitir juízos acerca de tais assuntos será sempre superficial e inútil, não menosprezo os manuais, ou ainda, os discursos filosóficos, religiosos, científicos, ou qualquer outra particularização científica que ditam e verbalizam verdades, que submetidas à convenção da maioria se concretizam e tomam para si o supra-sumo da competência. Admito que acabo me envolvendo com tais manuais/discursos e me empolgo com alguns dogmas, porém logo venho a evitá-los por constatar sua impotência perante a natureza impenetrável do mundo. Sussurramos como pequenas criaturas e nos debatemos no vazio que nos envolve. Assumimos todos os dias uma mania estúpida em determinar, afirmar tudo aquilo que interpretamos e assumimos como verdade única e instransponível, pois, semelhante postura nos conforta, nos lança num mundo familiar, onde tudo reflete nossa própria imagem, e desta forma aparentemente preenchemos nosso vazio, ou melhor, um determinado vazio dentre inúmeros outros que numa suposta hierarquia ontológica constitui nossa íntima natureza. Talvez seja triste pensar assim e pior ainda guiar nossas ações a luz de determinada interpretação, pode ainda, ser tudo isso mais um discurso superficial e inútil que não esteja a dizer nada e transpasse a enorme insignificância do seu editor perante o mundo codificado e harmonioso do qual a maioria se submete e anunciam suas felicidades, estabilidades, coerência, competência artística, política, filosófica, científica...

Sou mais um dentre inúmeros outros que se angústia com a condição em que vive no mundo, com o modo em que nos relacionamos com ele, e com a desprezível certeza que expressamos todos os dias sobre nós mesmos e nosso existir.

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