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Insight Ébrio

Vislumbrando uma garrafa sobre a mesa, vejo pequenas partículas de água que ultrapassam a matéria do vidro quando o líquido está gelado, ou será que o ar em contato com esta garrafa faz surgir pequenas gotículas de água? Na ignorância química das transformações que se realizam na natureza de forma sutil, neste estado confuso em que me encontro bêbado a olhar uma garrafa de vinho barato que me apresenta mudanças naturais que estão em toda parte, surge uma necessidade inútil de escrever, de pôr as coisas de forma limitada em palavras, num esforço desmerecido de descrever sensações, percepções aguçadas em juízos analíticos que fazem nada mais nada menos que me identificar como um puto sujeito sem propósito, sem inclinação literária, ou melhor, sem desejo de me mostrar como um desgraçado que sabe manipular palavras. Não sou desses que já nascem no esplendor da sabedoria, que dizem que ultrapassam os limites dos homens que encontramos nas ruas, nos lugares soberbos, na mendicância da existência sem esperanças, que trabalha apenas para viver, pois, em minha opinião somos pesos e medidas idênticas. Não tenho álibi de escritor, de um boçal de caneta nas mãos reverenciado por todos como o redentor único e merecedor da literatura, dos escritos sagrados. Vejo-me como um papel sujo voando pelas vielas do mundo, um pedaço de bicho morto que, desraigado do organismo a que pertence, assim como o mesmo, começa a se decompor. É mais genuíno sentir as mudanças das coisas do que descrevê-las como máquinas, repudio esse olhar mecânico do mundo, institucionalizado pela razão, um produto humano que confunde e engana ultrapassando os limites naturais. Quando menos dou conta do que falo, já estou enfadado com tudo e me conformo em desistir.... São apenas palavras de um qualquer que nada mais ambiciona, que pretende viver em quanto o tempo se mostra belo e imprevisto.

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