Pular para o conteúdo principal

Insight Ébrio

Vislumbrando uma garrafa sobre a mesa, vejo pequenas partículas de água que ultrapassam a matéria do vidro quando o líquido está gelado, ou será que o ar em contato com esta garrafa faz surgir pequenas gotículas de água? Na ignorância química das transformações que se realizam na natureza de forma sutil, neste estado confuso em que me encontro bêbado a olhar uma garrafa de vinho barato que me apresenta mudanças naturais que estão em toda parte, surge uma necessidade inútil de escrever, de pôr as coisas de forma limitada em palavras, num esforço desmerecido de descrever sensações, percepções aguçadas em juízos analíticos que fazem nada mais nada menos que me identificar como um puto sujeito sem propósito, sem inclinação literária, ou melhor, sem desejo de me mostrar como um desgraçado que sabe manipular palavras. Não sou desses que já nascem no esplendor da sabedoria, que dizem que ultrapassam os limites dos homens que encontramos nas ruas, nos lugares soberbos, na mendicância da existência sem esperanças, que trabalha apenas para viver, pois, em minha opinião somos pesos e medidas idênticas. Não tenho álibi de escritor, de um boçal de caneta nas mãos reverenciado por todos como o redentor único e merecedor da literatura, dos escritos sagrados. Vejo-me como um papel sujo voando pelas vielas do mundo, um pedaço de bicho morto que, desraigado do organismo a que pertence, assim como o mesmo, começa a se decompor. É mais genuíno sentir as mudanças das coisas do que descrevê-las como máquinas, repudio esse olhar mecânico do mundo, institucionalizado pela razão, um produto humano que confunde e engana ultrapassando os limites naturais. Quando menos dou conta do que falo, já estou enfadado com tudo e me conformo em desistir.... São apenas palavras de um qualquer que nada mais ambiciona, que pretende viver em quanto o tempo se mostra belo e imprevisto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Categoria Música: Belchior e os poemas de Drummond.

Bom, pra quem gosta de uma boa música aqui vai uma dica que, em minha opinião, despertará a curiosidade acerca deste nome. Minha dica é o cantor, poeta, pintor e compositor Belchior. É isso pessoal, por mais que alguns afirmem que existem “intocáveis” compositores brasileiros, a exemplo de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius, dentre outros, este cearense despertou minha curiosidade e me fez perceber que a música não tem limites estéticos, e que não existem tais cantores intocáveis. Sem bajulice ou coisa parecida, aqui escrevo sobre este figura por sentir e perceber a um bom tempo a qualidade de suas composições. A diversidade presente em sua obra é marcante e os ritmos se confundem numa salada de poesia, filosofia e estilos musicais. Inúmeras são as músicas que há tempo são apreciadas pelo gosto popular: “Apenas um rapaz latino-americano, Medo de avião, Fotografia 3x4 e Tudo sujo de batom”, são exemplos que já se tornaram banais. Sua originalidade estética não se resume apenas a es...

Ode divina ao Deus pútrido.

Um novo Deus parece estar entre lamas, Velhos rituais de fé o conclama. Uma desordem mais que profana, Neste mundo esquálido, prédios, fumaças intoxicantes, Fu megam em nuvens flutuantes o cheiro podre, dos que cederam o corpo para o sacrifício. Deus verme pútrido que tudo corrói, Para além de inúteis mercadorias, condenadas almas sem gozo, uma não vida que já não excita. Um novo Deus assume as rédeas dos continentes, esmaga com sorriso rasteiro, o ultimo lapso de euforia. Deseja leite em tetas pútridas, lanças em corações, paixão violenta. Esmagando crânios inúmeros, num mar de homens errantes, Ave ave todo poderoso e asqueroso Deus, máquina, impulso inconteste da des-razão.

Parábola do velho solitário

Certo dia um velho acordou e se viu num quarto vazio. O único objeto que se via era um espelho velho pendurado na parede. Nada de móveis, livros, roupas, nada, e ele, o velho, se encontrava deitado no chão olhando ao redor de si mesmo. Atônito resolveu se levantar e se dirigiu direto ao espelho. Ao se aproximar se deparou com um rosto familiar, “Este sou eu”, afirmou, como uma suposta sensação de indiferença. Via o quanto o tempo foi cruel com ele, e lembrando dos tempos de infância se surpreendeu em ver no espelho um sorriso refletido. Voltando a sua situação peculiar, percebeu que o quarto também não possuía janelas nem porta, apenas um pequeno buraco no teto no qual a luz invadia iluminando aquele pequeno espaço, isso lhe deu a impressão de estar sufocado e o ambiente aos poucos foi se tornando insuportável. Agoniado, minuciosamente analisava cada canto do quarto, mas, logo percebeu que tal tarefa era inútil, e que realmente estava preso e sua única companhia era aquele espelho ...