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Da adesão livre e espontânea ao vegetarianismo libertário


A adesão livre e espontânea ao vegetarianismo só se dá quando deixamos primeiramente de crer nos faláciosos  e dogmáticos  dizeres da “ciência contemporânea” que, atrelada e a serviço do capitalismo, constrói e reproduz discursos pretenciosos, excludentes, preconceituosos, infames, ‘anti científicos’, e por isso falsos, e por todas essas questões criticamos e repudiamos ao denunciar de especismo. O capital e suas engenhosas políticas propagandistas, que induzem o inconsciente das massas, sob o prisma ideológico da lógica mercantil, através do que fomos acostumados e aprendemos a respeitar, um tipo de saber no qual chamamos de “ciência”. Que desse título de ciência se traveste e  agora nos causa desconfiança por sua imparcialidade e verificações experimentais inventadas, por isso mesmo superficiais e distante do que percebemos na experiência autêntica de nosssas vivências. Juntos, capitalismo e essa ‘pseudo ciência’, construiram ao longo do tempo uma forma de vida imoral e desrespeitosa, que tem como substrato ou combustivel para sua existência, o consumo de carne. Consumo esse duvidoso, pois basta pesquisar mais um pouco para descobrirmos isso, da arqueologia recente, etnografia, da antropologia do século XXI[1], daqueles que gratuito e seriamente se ocupam do saber e do fazer  real científico, apenas pela curiosidade e por inquietação e precaução, em relação as ‘verdades’ reproduzidas em nosso meio. Os meios mídiaticos são as ferramentas fundamentais de toda essa lógica, de toda essa estrutura reducionista e gananciosa, que transforma tudo em produto, sem excessão para o deleite de uns poucos agiotas cretinos e sem escrúpulos, sedentos por dinheiro a qualquer custo. Eis aqui a primeira postura daquele que pensa adentrar no vegetarianismo político libertário. Negação dessa crença cega e ignorante, a de que animais não humanos existem para satisfazer a necessidade única, exclusiva e imundamente pretensiosa humana. Observemos o comportamento das crianças diante dos demais animais que convivemos no mundo, a simplicidade e a beleza de uma pequena mãozinha acariciando um cachorro, um carneiro, uma galinha ou qualquer outro animal que nos prestemos a conviver, a manter uma relação sem imposição de qualquer natureza, para nos concientizarmos sobre uma possibilidade mais justa e solidária de convivência com outros seres, espécies e vidas. Poucos ou quase ninguém, a não ser os que já estão totalmente alheios a toda essa problemática e estão inseridos por completo nesse sistema, por mais que sejam como autores coadjuvantes de toda essa história manchada de sangue, aqueles que trabalham em abatedouros, matadouros, açougues, o restante dos cidadãos comuns morrem de pavor em ver sangue e nem sequer tem coragem de ver como são mortos os animais que consomem. E sabemos o por que disso. Não apenas pela tamanha violência que são as imagens, as cenas agonizantes que veríamos dos animais gritando de medo, dor e horror, mas também por que somos capazes de refletir sobre o quão é desnescessário nos alimentarmos de carne animal. Chegamos a um tal ponto de consciência sobre nossa postura diante do mundo e da vida que não precisamos fazer esforço algum para constatarmos tal inutilidade. E o que nos impede de nos guiarmos tendo como parâmetro essa consciência ecológica? Somos induzidos ao fracasso, a resignação, muitos de nós somos produto de uma educação religiosa transgressora, o cristianismo, que faz do homem filho do deu$ imortal, poderoso e temido, dono do mundo e das demais criaturas que existem nele, e essa herança fajuta e desgraçada condenou, a princípio de maneira mística, mas induzindo na prática os fiéis, os súditos dessa seita ao especismo, e  todos os animais não-humanos ao subjulgo da humanidade. Posteriormente, sob a roupagem do capitalismo e dos discursos de uma pseudo ciência se justifica, até os dias atuais, essa condição de superioridade e privilegiosa, “- por sermos dotados de razão?”,  dos humanos sobre os não humanos, fazendo dos últimos meras coisas ou produtos a serem consumidos. Que todos os dias possamos refletir sobre nossas práticas, nossas relações para que possamos recriar, desde já, novas formas de existir no mundo. E que essas novas formas tenham como princípios a liberdade e a igualdade, mais ampla do que possamos imaginar. Só através da política do cotidiano, do fazer acontecer, aqui e agora e não no amanhã, na incerteza do futuro, até virar cultura. Somos, talvez, capazes de resistir ao modelo cristão e capitalista de vida e, isso inclue, alimentação. Essa política é a mesma que condena as imposições burguesas e os autoritárismos estatais, a violência entre os individuos, ela é a anarquia, que a meu ver não se dissocia do vegetarianismo.



[1] Sobre o assunto ver “O homem evoluiu como um animal carnívoro ou vegetariano?” de Sérgio Greif, e também do anarquista primitivista John Zerzan o “Anti mundo moderno”.

 


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