Deitado de bruços concentrado olhando o teto da sala de estar. Seu ânimo afetado por viver num país escroto. Uma bota gasta na cara da juventude, uma tradição oligárquica viciada por poder, lançando mão de estratégias tecnológicas fetichistas, aparência distópica, uma realidade plástica e cinzenta. Deitado naquele sofá nada parecia lhe devolver o viço da existência. Sem gozo, gargalhadas incontroláveis histéricas e ensurdecedoras, zuniam em sua cabeça. Estava enlouquecendo? Como ele desejaria enlouquecer, naquele momento, de súbito, num acesso de fúria arrancar, com uma mordida, a orelha de um militar. De um professor, aula de metafisica, aquilo não fazia mais sentido. De um pai de família, dívidas, fraldas cheias de merda, e a esperança dilacerada. O mundo estava hostil, aquele país era o pior lugar de todos. Não era um regime totalitário, modelos retrógrados, violência institucionalizada, monopólio dela e adesão popular a ferro fogo , coturnos e balas de fuzil. Era através de uma...
COLETÂNIA DE IDÉIAS