Pular para o conteúdo principal

Confissões de um solitário vagabundo


Hoje acordei com as vísceras para fora, “Ontem devo ter bebido ou comido algo que me fez muito mal”. A ressaca é um sinal de que estamos vivos e de que a vida e tão insuportável quanto. Um filho da puta chamado Bukowski dizia que A alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago, “Velho safado, falava algumas verdades sobre a vida”. Cigarros e álcool parecem que foram feitos um para o outro, sempre quando estou bebendo sinto uma vontade incontentável de fumar. Acredito nisso e sempre ando com cigarros nos bolsos. À noite o mundo e as pessoas perdem suas vergonhas e todos saem às ruas para se envolverem, “Nada particular, mas na noite tudo é permitido”. Gosto de sair e beber, conversar? Só se for frivolidades, pois de que me vale ser sério quando estou bêbado? Existe certa necessidade em se entorpecer, do contrário, estaríamos todos mortos. O tédio mata, as frustrações enlouquecem, família, carro, piscina de plástico, casamento, bichos de estimação, escova de dente, camisinha, conta bancária, computador, livros blá, blá, blá, blá, blá, ufa!!! Só pra encher mais ainda meu saco. No som rola Never Met a Girl Like You Before, essa garota deve ter lhe enchido a paciência meu caro, never palavra desgastada, sinônimo de um grande equívoco. Mais um trago, mais um gole, sem reflexões, mas com desejos e ânsias. Puxei minha faca e esfolei o mundo sem piedade com todas as minhas forças, senti o sangue escorrendo em minhas mãos e pela minha face, com meu semblante de alegria e ao mesmo tempo extasiado, gritei a noite inteira. “Cada qual mate seu mundo”, pensei e me confortei com esta possibilidade. Se somos transgressores por natureza para quê tanta benevolência? Ser benevolente é uma estupidez, como diz um velho ditado: se vires alguém clamando por ajuda termine de matá-lo. Não é crueldade, mas um ato solidário, já imaginou quantos desgraçados podemos com um simples gesto extinguir, sem misérias, tristezas ou qualquer um desses adjetivos fatídicos? “Clamarei ingenuamente por justiça!”, toda a humanidade dentro de uma grande vala coberta de cal, cheiro forte de carne podre, corpos inchados e vermes por toda parte. “O mundo é uma grande bola podre de carne cheia de vermes”, talvez tenha isso certa veracidade. Go go tudo pode explodir a qualquer momento, e nem nossos senhores se safarão. Fico feliz com tudo isso, me envolvo nas palavras e acabo sem saber a distinção entre a realidade e a poesia. Anarquia no prato, maçãs de cor cinza, cheiro de água, gosto de fumaça, sensações sinestésicas que embalam os ritmos das noites nos finais de semana. Hoje é um belo dia para matar criancinhas e comer pedras, porém meu estomago não é mais o mesmo, minhas vísceras se contraem como se fosse um órgão independente, tudo por conta da noite passada, do dia que apareceu de forma violenta e levou meu prazer em troca de lamentações. Coloco a cabeça pra fora do casulo mesmo com o meu predador a me espreitar, observo o mundo e a coisas ao meu redor, emito sons, prolifero mutações, almejo incertezas no vazio insólito da vida. “Chega! Tudo está em ordem, tudo está no compasso rítmico da incrível existência humana”, percebo, sinto, quero, desejo e faço do eu poder. Como quem sente a presença final, como um tiro na cabeça de um vagabundo solitário em qualquer lugar, abaixo do céu e das estrelas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Categoria Música: Belchior e os poemas de Drummond.

Bom, pra quem gosta de uma boa música aqui vai uma dica que, em minha opinião, despertará a curiosidade acerca deste nome. Minha dica é o cantor, poeta, pintor e compositor Belchior. É isso pessoal, por mais que alguns afirmem que existem “intocáveis” compositores brasileiros, a exemplo de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius, dentre outros, este cearense despertou minha curiosidade e me fez perceber que a música não tem limites estéticos, e que não existem tais cantores intocáveis. Sem bajulice ou coisa parecida, aqui escrevo sobre este figura por sentir e perceber a um bom tempo a qualidade de suas composições. A diversidade presente em sua obra é marcante e os ritmos se confundem numa salada de poesia, filosofia e estilos musicais. Inúmeras são as músicas que há tempo são apreciadas pelo gosto popular: “Apenas um rapaz latino-americano, Medo de avião, Fotografia 3x4 e Tudo sujo de batom”, são exemplos que já se tornaram banais. Sua originalidade estética não se resume apenas a es

Parábola do velho solitário

Certo dia um velho acordou e se viu num quarto vazio. O único objeto que se via era um espelho velho pendurado na parede. Nada de móveis, livros, roupas, nada, e ele, o velho, se encontrava deitado no chão olhando ao redor de si mesmo. Atônito resolveu se levantar e se dirigiu direto ao espelho. Ao se aproximar se deparou com um rosto familiar, “Este sou eu”, afirmou, como uma suposta sensação de indiferença. Via o quanto o tempo foi cruel com ele, e lembrando dos tempos de infância se surpreendeu em ver no espelho um sorriso refletido. Voltando a sua situação peculiar, percebeu que o quarto também não possuía janelas nem porta, apenas um pequeno buraco no teto no qual a luz invadia iluminando aquele pequeno espaço, isso lhe deu a impressão de estar sufocado e o ambiente aos poucos foi se tornando insuportável. Agoniado, minuciosamente analisava cada canto do quarto, mas, logo percebeu que tal tarefa era inútil, e que realmente estava preso e sua única companhia era aquele espelho

Sobre a morte de Belchior

Dia 30 de abril os principais jornais do país anunciam a morte do cantor e compositor Belchior, uma “ferida viva no meu coração”, isso mesmo, uma ferida repentina, uma angústia, não sei ao certo, me atingiu naquele exato momento. Custei acreditar o poeta tinha nos deixado, “tenho sangrado demais” e mais uma notícia triste selava o primeiro semestre de 2017, num país que cada vez mais ficava pobre, em alma, em voz. “Como uma metrópole o meu coração não pode parar” pensei, vida que segue, o aventureiro cearense tinha nos deixado uma obra imensa para que ainda possamos lembrar de seu nome e imagem. Hoje, se me propus a escrever sobre esse fato, foi simplesmente pelo desejo de deixar “na parede da memória essa lembrança é um quadro que” me dói mais. Belchior é um nome a ser lembrando e descoberto por muito tempo, como um visionário temia um futuro de intolerâncias, de medo e de pequenez humana. “Nada é divino, nada é secreto, nem misterioso” mas continuo a aprender com a vida, talvez foi