Raramente as coisas
caminham como desejamos, estamos sempre tendo que empurrar a pedra de volta ao
cume. Alusão a literatura trágica grega. Acordo logo cedo pela manhã ofuscado
pela claridade do dia que entra através da janela do meu quarto. Continuo
deitado curtindo um pouco da preguiça matinal necessária por vigorar nossos
ânimos e nos dar coragem para enfrentar mais um dia. Me levanto e sinto, com os
pés descalços, o frio do chão e vou direto ao banheiro dar aquela bela mijada,
essas que fazem de um homem o ser mais imponente da face da terra. Lavo o rosto
e olho no espelho, “ - o tempo não foi bondoso comigo”, aos 28 anos sinto que os homens e
seus negócios querem que você se endivida, contraia o maior número de dívidas
para que possa trabalhar para pagá-las o resto de sua existência. “ - Eles
ganham quando você perde”, e é essa a regra do jogo, competitividade entre
desiguais, vejam os bancos fudendo com todos “ – tarifas de pacote especial,
tarifa de uso de serviço, desconto em folha de salário”, agem subsidiariamente dentro da lei. Isso é imundo, não vejo como podemos escapar de todas essas
armadilhas. Minha garota se esforça para me entender, e eu também a ela, vamos
vivendo, gozando um pouco do prazer que a juventude nos oferece, tentando não
pensar no futuro, no acúmulo inútil de bens materiais, ainda podemos pensar
assim, não envelhecemos nossos sonhos, mas somos conscientes de que muitos deles
nem sequer serão realizados. O filósofo do absurdo, o argelino Camus falava
algo sobre o desejo e o querer em estar vivo, mesmo sabendo que a vida é um
absurdo, rejeitar a morte e ansiar a vida a todo custo como forma autêntica de
existir. É isso mesmo não temos muitas escolhas, e na incerteza da existência é
preferível desejar a vida e não a morte, foda-se a morte! Ainda quero decidir
sobre minha vida, sobre o que me é aprazível, eu prefiro andar sozinho, “ –
lembranças do Belchior e seus cânticos sul americanos”, nesse lugar nenhum que
por força do hábito chamam de nordeste. Não me orgulho desse lugar, sei o quão
é absurda essa vida por aqui, são marcas de um passado histórico por onde
exploradores imperialistas e europeus adentraram, invadiram. Aqui os assassinos desbravadores abriram caminho para a ocupação civilizada, aqui o progresso
subnutriu as esperanças de um povo que hoje vive assolado pelo calor. Existem oásis nesse deserto e a maioria da gente desse lugar nem mesmo imagina, pois
estão muito ocupados com suas preces estúpidas. As vezes esquecemos o quanto
são sádicas e aleijadas as intenções do nosso Deus. Sou um vagabundo, anseio o
prazer da desocupação, do simplesmente não fazer nada, é gostoso só fazer
aquilo que desejamos, sem restrições, limitações. Digo não ao esforço sem
consentimento, sem que não façamos nada a não ser para nossas ambições, nossas
necessidades, tudo aquilo que fazemos em detrimento de uma vontade exterior,
uma outra que não seja nossa, é estranha, diferente e inimiga. Olho ao meu
redor e vejo todos os gatos esparramados pelo chão do apartamento. “- Quais
serão suas intenções?” Nem ao menos tenho a presunção mesquinha em julgá-los com
o olhar humano. Acredito que não há segredos, vejam eles, apenas existem, e não
há nenhum enigma a se decifrar quanto a isso. O meu barco estar a derivar solitário
nas águas do meu oceano. Talvez algum dia eu possa ir contra a maré, desdizer
tudo isso, ser outra coisa, e posso por que não? Não há prazer na certeza, são
as inconstâncias da contradição que nos fazem gozar. Lee Morgan me faz passear
sem sair do lugar, ao som do meu computador termino esse texto, sem qualquer
pretensão literária, escrevo para me salvar da loucura do mundo, escrevo para
não enlouquecer de vez, me iludo e ocupo os meus dias tediosos escrevendo, nem
sempre é assim, mas faço sem permissão alguma de ninguém. São palavras e
histórias de um desocupado que tem ainda o privilégio de empreitar determinada
atividade.
Bom, pra quem gosta de uma boa música aqui vai uma dica que, em minha opinião, despertará a curiosidade acerca deste nome. Minha dica é o cantor, poeta, pintor e compositor Belchior. É isso pessoal, por mais que alguns afirmem que existem “intocáveis” compositores brasileiros, a exemplo de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius, dentre outros, este cearense despertou minha curiosidade e me fez perceber que a música não tem limites estéticos, e que não existem tais cantores intocáveis. Sem bajulice ou coisa parecida, aqui escrevo sobre este figura por sentir e perceber a um bom tempo a qualidade de suas composições. A diversidade presente em sua obra é marcante e os ritmos se confundem numa salada de poesia, filosofia e estilos musicais. Inúmeras são as músicas que há tempo são apreciadas pelo gosto popular: “Apenas um rapaz latino-americano, Medo de avião, Fotografia 3x4 e Tudo sujo de batom”, são exemplos que já se tornaram banais. Sua originalidade estética não se resume apenas a es...
Muito bom ler isto, ainda mais quando citas Belchior.
ResponderExcluirQue bom que gostou Bruno Kenobi, abraços!
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