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O ato de comer carne é uma condição da existência capitalista





Há um discurso predominante sobre postura alimentícia do ser humano no seus primórdios, no qual descreve, sustentado numa prática arbitrária, produzida por nós, em naturalizar os nossos atos, tendo o humano como sendo um ser que sempre consumiu carne. Existem grupos de cientistas que se esforçam para eleborar um esquema lógico, cheios de absurdos desconexos e extrinsecos, para fundamentar esse “pré-conceito”, que de fantasia incial, passou a justificar toda essa prática cruel e superficial que é o consumo, ou melhor, a indústria da produção em massa da carne.
É de conhecimento de todos que o aumento da obsidade, doenças cardíacas, canceres de todas as espécies, problemas hormonais, diabetes e tantas outras moléstias, estão hodiernamente, enchendo as estátisticas.  Se formos examinar a finco quais as possíveis causas dessas doenças, chegaremos a um certo consenso de que todas elas estão associadas ao nosso comportamento no ambiente em que vivemos. Tal comportamento não se resume a ações externas, praticadas de maneira irresponsável, como é o caso das questões ambientais, que dizem respeito a ecologia, mas também a ações que visam satisfazer necessidades internas, a exemplo da alimentação, o sexo, e demais expressões fisiológicas.
Na contramão dos discursos que afirmam o consumo de carne, por parte de nós humanos, como algo natural e até mesmo essencial, John Zerzan em seu livro ‘Futuro Primitivo’ expõe argumentos sobre a primeira adaptação de nossa espécie centrada na coleta, e não na caça, fundamentando seus escritos nas pesquisas de arqueólogos que a priori demonstraram indícios de que o uso de animais, ou práticas carnívoras como algo relativamente recentes, de humanos anatomicamente modernos.

Descobertas arqueológicas nos levam a desacreditar nos discursos predominantes e impostos por parte da ciência, ou para ser mais preciso, por parte das instituições que visam perpetuar essa prática, do consumo da carne de animais não humanos, como algo intrínseco a natureza humana, se é que podemos estabelecer adjetivos absolutos a tal natureza.  Ainda sobre o tema Zerzan afirma com base em pesquisas arqueológicas e também antropológicas que

(...) antes da domesticação, antes da invenção da agricultura, a existência humana passava essencialmente no ócio, que descansava na intimidade com a natureza, sobre uma sabedoria sensual, fonte de igualdade entre sexos e de boa saúde corporal. Isso foi nossa natureza humana, por durante aproximadamente dois milhões de anos, antes de nossa submissão aos sacerdotes, reis e patrões (p. 5 Futuro Primitivo)”.

Disso percebemos então que aquilo que chamamos ou classificamos como natureza humana era bastante diferente do que hoje a maioria insiste em acreditar e transmitir, por gerações, como condição necessária de nossa espécie. Comer carne não é uma condição essencial nossa, é fruto de uma sociedade transgressora que tem por base posturas ou práticas destrutíveis, que visam unicamente o lucro, hábitos artificiais moldados em combinação com esse modelo social, fabril, civilizado e doentil no qual subexistimos.

Somos peças de uma máquina sedenta por sangue, criada por nós mesmos, para suprir uma demanda esquizofrenica de consumo, ávida por destruição, que não medi esforços para sastisfazer prazeres futéis. Cegos pelo poder, acreditamos em nossa superioridade, nossa pretensão estúpida em achar que estamos no topo de uma suposta hierarquia, na qual gozamos do privílegio cretino de submeter todos os seres vivos, e todo ambiente aos nossos interesses.

O consumo de carne não passa de um reflexo de todo esse modelo moderno ou capitalista de existir, a máquina precisa de sangue para funcionar. Quando moralizamos o mundo e a vida, deixamos de acreditar que eramos um organismo vivo que tinha o equilibrio como condição substâncial para existir, uma interligação entre as espécies como fonte essencial para exirtirmos num mesmo habitat. Passamos a desejar o poder e, com esse, justificar nossa supremacia fictícia em querer tudo só para nós. E por fim , ignoramos, por mais obvío que pareça, que a natureza é indiferente as nossas ambições, e que aos poucos cavaremos nosso próprio túmulo.

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