Dia 30 de abril os principais
jornais do país anunciam a morte do cantor e compositor Belchior, uma “ferida
viva no meu coração”, isso mesmo, uma ferida repentina, uma angústia, não sei
ao certo, me atingiu naquele exato momento. Custei acreditar o poeta tinha nos
deixado, “tenho sangrado demais” e mais uma notícia triste selava o primeiro
semestre de 2017, num país que cada vez mais ficava pobre, em alma, em voz. “Como
uma metrópole o meu coração não pode parar” pensei, vida que segue, o
aventureiro cearense tinha nos deixado uma obra imensa para que ainda possamos
lembrar de seu nome e imagem. Hoje, se me propus a escrever sobre esse fato,
foi simplesmente pelo desejo de deixar “na parede da memória essa lembrança é
um quadro que” me dói mais. Belchior é um nome a ser lembrando e descoberto por
muito tempo, como um visionário temia um futuro de intolerâncias, de medo e de pequenez
humana. “Nada é divino, nada é secreto, nem misterioso” mas continuo a aprender
com a vida, talvez foi assim que o poeta, esse latino americano “sem nenhum
dinheiro no bolso”, tenha encarado a morte, aparentemente tranquila, preferiu o
isolamento, não “a solidão me rói ”essa companheira inseparável, mas um tempo
consigo, seus pensamentos e ideias pareciam ainda fervilhar, querer dizer algo
mais. Obras que talvez com o tempo se revele. O “Nordeste um país de
esquecidos, humilhados, ofendidos e sem direito ao povir”, sente nesse momento o
seu deixar, o ponto final de sua existência no mundo terral. “Amar e mudar as
coisas me interessam mais” foi uma de suas mensagens, talvez a mais conhecida
delas, uma sabedoria para os espíritos aventureiros e jovens, para que não
esqueçam que “como nossos pais” também seremos questionados, reclamados, por repetirmos
os mesmos erros. “Difícil é saber o que acontecerá”, como ironia do destino,
Belchior abraçou a morte entre uma greve geral e o 1° de maio, deixando a
sensação de que “o que transforma o velho no novo, bendito fruto do povo será”.
E se ainda “há perigo na esquina”, ligo a vitrola escuto alguns discos e me
inspiro “sempre desobedecer, nunca reverenciar”. Quero ainda lembrar do humor,
da beleza da rebeldia, pois ainda “quero ter daquela que me ama um abraço que
eu mereça”, me emocionei, mas não chorei, desejei um trago, uma cerveja “sobre
a América, América do Sul”. Recordei dos amigos, das festas e bebedeiras em que
cantávamos juntos suas músicas, da faculdade a “paixão morando na filosofia”, descobrindo
e descobrindo. Sei que tudo muda, que nada é para sempre, “também estou vivo eu
sei, mas porque posso sangrar” e dentre os inúmeros textos sobre sua morte, “a
grama está sempre verde, mas eu quero pisar”, também quero participar. Sou ruim
com palavras mas sei que um “gole de conhaque” eu tomei e vou levar comigo uma
noite fria no brejo paraibano e a inocência que aquela seria a última vez que o
veria, “ao vivo é muito pior”. Salve salve ao grande Belchis, “não foi a força
bruta da beleza, nem o vigor cruel da mocidade”, de hoje em diante brindarei
como sempre fiz, aos amigos “o amor somente é tão banal”.
Bom, pra quem gosta de uma boa música aqui vai uma dica que, em minha opinião, despertará a curiosidade acerca deste nome. Minha dica é o cantor, poeta, pintor e compositor Belchior. É isso pessoal, por mais que alguns afirmem que existem “intocáveis” compositores brasileiros, a exemplo de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius, dentre outros, este cearense despertou minha curiosidade e me fez perceber que a música não tem limites estéticos, e que não existem tais cantores intocáveis. Sem bajulice ou coisa parecida, aqui escrevo sobre este figura por sentir e perceber a um bom tempo a qualidade de suas composições. A diversidade presente em sua obra é marcante e os ritmos se confundem numa salada de poesia, filosofia e estilos musicais. Inúmeras são as músicas que há tempo são apreciadas pelo gosto popular: “Apenas um rapaz latino-americano, Medo de avião, Fotografia 3x4 e Tudo sujo de batom”, são exemplos que já se tornaram banais. Sua originalidade estética não se resume apenas a es...
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