Bom, falar desse indivíduo é ter a priori a consciência de que foi uma figura marcante no cenário crítico e marginal do séc. XX. Antonin Artuad foi escritor, poeta, ator, dramaturgo, roteirista e diretor teatral de tendência anarquista.
Figura enigmática foi tido como louco, internado em vários manicômios franceses e submetido a sessões de eletrochoque. Avesso ao caráter intelectualista da época, procurou ao máximo expressar suas idéias de forma livre de preconceitos, sejam eles acadêmicos ou doutrinais.
Esse poeta desgraçado nasceu em Marselha no dia 4 de setembro de 1896, e foi encontrado morto em um quarto de hospício na cidade de Paris no ano de 1946. Suas contribuições foram enormes, a quem considere que foram mais expressivas no campo teatral, mas na minha opinião vejo Artuad como um todo, onde suas partes, seu posicionamento político, filosófico e cultural o completam.
Antonin vasculhou o universo humano cheio de contradições e de uma profundidade assustadora. Ele colocou os pés onde as certezas se desmoronaram, onde a vida se apresentou de forma mais simples, mas por outro lado complexa para aqueles que a violaram tornado-a unicamente humana e, por isso, ilusória, institucional, consequentemente, limitada.
Abaixo algumas poesias de Antonin Artuad:
Antonin Artaud
(França, 1896-1948)
Os sentimentos atrasam
Os sentimentos atrasam,
as paixões atrasam,
as instituições atrasam,
está tudo a mais, nesse demais sempre a pesar sobre a existência, ela própria uma ideia a mais,
filósofos, sábios, médicos, padres, pouco a pouco, de mansinho e brutalmente, têm-nos feito esta vida falsa
porque não há profundidade nas coisas, não há além, nem mais voragem do que a que formos capazes de lá pôr
já,
sem ideia nem entidade,
sem imanência nem instância,
nada me espera para me pedir contas,
mas eu tenho contas a pedir a alguns ignóbeis
velhos labregos da doutrina,
contas a pedir por retardarem a vida com os seus sentimentos, paixões, instituições.
(...)
tradução: Ernesto Sampaio
In “Os Sentimentos Atrasam”,
Hiena, 1993
Antonin Artaud
(França, 1896-1948)
(No topo das essências)
No topo das essências fixadas, correspondente às
inumeravéis modalidades da matéria, existe aquilo que, na
subtileza das essências, na violência do fogo ígneo
corresponde aos princípios geradores das coisas, aquilo
que o espírito que pensa pode denominar princípios, os
quais porém correspondem, em relação à totalidade
fervente das coisas, a graus conscientes da Vontade na
Energia.
Não existem princípios da matéria subtil ou do
enxofre ou do sal, mas, para além do sal, do mercúrio ou
do enxofre, matérias ainda mais subtis que, no último
extremo da vibração orgânica, dão conta da diversidade
do espírito através das coisas; e a quem pede lhe sejam
apresentadas as coisas, só os números respondem dando
conta das suas existências separadas.
(...)
in “Heliogabalo ou o Anarquista Coroado”,
Tradução de Mário Cesariny de Vasconcelos
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