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A arte como produto convencional.


Admiro algumas produções artísticas, mas não sou de estar endeusando tais coisas. Motiva-me na maioria das vezes apreciar produções que aspiram a destruição futura da arte, ou melhor, do caráter tão elevado que atribuem a esta ocupação, e também daquelas que fogem das salas de colecionadores medíocres. A arte pela arte não se sustenta mais, a hegemonia de alguns se transfigura na má índole artística. Submeto-me ao gosto, não as técnicas ou o modo de fazer complexo das artes, e prefiro o perecimento de tais coisas no mundo do que a vanglória e a conservação das paredes seletivas dos apreciadores.

Hoje em dia todo mundo é artista, de uma forma ou de outra, todos escrevem livros e buscam se constituírem como seres cultos, se isto é uma banalização do bom gosto, ou do ridículo comportamento comum dentre os pseudos-intelectuais, isto pouco me importa. Não me venham com comportamentos pré-definidos, um “menu” do que devemos consumir.

Cada qual com sua tolice. Estamos impregnados de conceitos vazios e de normas de condutas pré-estabelecidas. Velharias tão novas que se confundem e faz confundir a realidade, um insulto ao modo de vida necessária, que nos submete ao vazio de certas ilusões.

A arte e esse seu atributo "indelével" que tanto a sustenta, não passa de uma atitude pacífica convencional e irrefletida. As questões não giram mais em torno do belo ou da reflexão acerca do mesmo, a norma é dita por uma ideologia que tem como base o dinheiro.

A questão monetária define as escolas, as características e a motivação do artista, essa visão por mais que pareça, não pretende ser generalista, pois, acredito ainda na existência daquele individuo que produz para um fim próprio diferentemente do caráter quantitativo que a obra como produto assume no mercado, a exemplo das produções clandestinas e/ou marginais, que visam um determinado público específico sem fins lucrativos.

A arte não é mais uma questão de culto, não apreciamos mais tais coisas, mas somos bombardeados todos os dias por modos de comportamentos estabelecidos a priori por uma ideologia capitalista, que define cada característica de cada grupo na sociedade.

Justamente por isso minha aversão ao caráter “sagrado” que os supostos artistas e indivíduos que se dizem intelectuais ou se comportam como tais atribuem à arte ou ao seu modo se fazer.

Nada é novo, imagens, ídolos, mártires e artistas, tudo fazem parte do modo de sentir, perceber e viver humano, são características, relações que, desde tempos remotos, sendo o seu ápice nos tempos modernos, reproduzem padrões que submetem as interpretações e os comportamentos. O que é o belo? Tudo depende do grau da polidez que fui submetido. Nossos sentidos, assim, como nossas percepções foram educadas, polidas, para melhor me expressar. Isso tudo configura-se numa certa violência contra a subjetividade. Sem termos acadêmicos, sem dá nomes aos “bois” (conceitos), assim interpreto essa questão da arte e sua suposta superioridade estética, que no fim das contas termina em algum museu, na parede de um estúpido colecionador e como produto com valor monetário altíssimo.

Não esqueçam, a vida humana é transgressora, e a arte como expressão máxima do belo não passa de mais uma convenção, que toma para si um caráter de superioridade, dentre inúmeras outras expressões humanas.

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