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As fogueiras ardem lá fora

As fogueiras ardem lá fora. É noite de São João, mas nada disso envolve o meus sentimentos, meu desejo maior é ficar em casa. Uma boa companhia não se encontra fácil e eu cansei de errar. Um homem solitário não suporta essas coisas, ele esquece que seu mundinho, suas frustrações não passam de peso leve. A dor do mundo é outra, a vida será sempre essa incógnita massacrante. Bebida e uma televisão fora do ar, nem os programas de tv desfazem esse tédio. Fogos de artificio lá fora não são mais tão empolgantes como na infância. Deveria me lançar em alguma fogueira lá fora, deixar queimar a carne numa catarse junina, um paiol de sentimentos intragáveis. Melancolia não deixa de ser cafona, ninguém tem mais saco pra esse tipo. Sujeito confuso e indeciso, copo gelado de Coca-Cola e um resto de macarrão azedo na geladeira. Não tenho sono, algo me perturba, não sei bem ao certo o que seja. Não tem nada haver com amores, amores esgotam qualquer homem. Aprendemos um pouco sobre, eles fazem falta, eles dão sentido a existência, mas não é isso. As fogueiras ardem lá fora, a madeira é consumida, o fogo que antes era forte e vivo mais tarde será cinzas. Haverá outros solitários como eu? Eles são chatos e egoístas, não sabem fazer charme. Um disco de jazz, o piano encontra esperança na dor de muitos, negros se identificavam e choravam com estilo, o jazz fora consequência. Eles criariam novamente de qualquer jeito, e as fogueiras lá fora com o nascer do dia estarão frias. Gélidos são esses pensamentos, não encontram calmaria, atiçam a apatia, nenhuma droga é necessária, alimentam todo mundo com falsa alegria. Mas qual o verdadeiro motivo em escrever todas essas coisas? Sentado diante do computador não teria uma resposta convincente. Escrevo por talvez me distrair, por insistir em algo que só serve para mim, eu quero e pronto! O mês de junho faz parte do ciclo, do meio do ciclo em que tudo parece virar e revirar, ideais, cabeça, pensamento em corpo. Pensar num sentido não basta, não encerra a questão. Será um sempre se perguntar, existir? Como existir? Ontologia fajuta, essa minha, nem estilo tenho para isso. A metáfora do fogo é antiga, movimento, vir-a-ser, ponto de partida ininterrupto. Fogueiras são partes, símbolo, que representa essa antiga ideia acerca do fogo. Fogueiras ardem lá fora, e uma mãozinha queimada, criatura inocente, criança ainda ingênua que se queima com fogos de artificio. Queimadura deixa marcas, ardem por um bom tempo, deixa aprendizados. Fogueiras são chamas acesas na solidão das cidades. Campina Grande nesse exato momento me engole, sufocado ainda luto.

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