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Havia cigarros jogados ao chão....

Sábado ensolarado, mas entediante como todos os outros sábados que já passaram, que se perderam em restos de lembranças poucas vezes revividas em memória. The man with the born, estava rodando na vitrola velha, esquecida por ladrões desgraçados que arrombaram e furtaram minha casa. O diabo sente o cheiro de nossas frustrações, e eu nem dei conta da merda em que eu estava enfiado. Havia cigarros jogados ao chão, um cinzeiro quebrado, roupas espalhadas por todo o chão, e em uma mesa suja e velha, livros, uma gueixa a me olhar sorridente, num sábado desgraçado. Garrafas vazias em mais um sábado vazio, que consome até as últimas forças de uma juventude que insiste em não morrer. Você dá conta de que a solidão não é tão boa assim. Aonde estão as mulheres, homens precisam de mulheres, Freud viciado em cocaína, um batismo de sangue, um ritual de passagem, um pulo para o abismo, uma queda além dos 30 anos. Sábados, insuportável sábado que virá...
A cópia de um desejo, cadeiras vazias, poeira por toda a casa. Apostar na loteria, pegar alguns cigarros que estão no chão, vestir a camisa exótica cheia de flores avermelhadas, um pente velho no cabelo assanhado e oleoso, óculos escuro, short manchado de vinho e os bolsos cheios de sementes secas de maconha. Pegar o carro sair por aí, subir e descer as ruas dessa cidade serrana e cada dia mais próxima do sol. Sábado inútil, como todas as coisas são. Estar vivo nem sempre é estar com saco pra suportar a vida. O sol é forte e comum, não é o sol do mediterrâneo, Camus jamais sentiria esse sol, é um sol quente e entediante, principalmente nos sábados, sábado e sol escaldante, as cervejas são quentes e a vontade de ficar nu o dia inteiro. Desgraçado sábado, cansei de querer saber da política, do bom senso, da merda social de ter que ser alguém.

Contrabaixo grave, trompetes agudos, pego meus chinelos e resolvo sair de casa. O que esperar de um sábado, o que esperar, porque esperar, mais um dia pra encher a cara, vinho barato, pouca grana na carteira, e nenhum amigo.

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